Bem-Estar Animal na Pecuária de Corte: Produtividade, Manejo e o Que Realmente Faz Diferença

Bem-Estar Animal na Pecuária de Corte: Produtividade, Manejo e o Que Realmente Faz Diferença
Hoje em dia, é impossível falar em pecuária de corte moderna sem considerar o bem-estar animal como parte da equação. E não se trata apenas de atender exigências do mercado externo — embora isso pese bastante. O fato é que animais bem manejados produzem mais, melhor e com menos custo.
Pesquisas como as da Embrapa e da UFMG apontam que animais estressados podem ter uma redução de até 20% no ganho de peso diário e perdas de até 30% no rendimento de carcaça em situações de manejo ruim. Além disso, o pH da carne de bovinos submetidos a estresse pré-abate tende a subir, o que prejudica diretamente a qualidade do produto final, levando à chamada carne DFD (Dark, Firm and Dry).
Mas como colocar isso em prática de forma realista na rotina da fazenda? E quais práticas realmente fazem diferença? Vamos por partes.
O que realmente é bem-estar animal?
Antes de mais nada, vale reforçar que bem-estar não é “mimar” o gado. É garantir que ele possa exercer seus comportamentos naturais com mínimo estresse, dor e desconforto. Isso se traduz em ações concretas: manejo mais calmo, instalações pensadas, alimentação adequada e até na forma como o transporte é feito.
O conceito das "5 Liberdades" ainda serve como norte:
- Livre de fome e sede
- Livre de desconforto físico
- Livre de dor e doenças
- Livre para expressar comportamentos naturais
- Livre de medo e estresse
Mas na prática, o que isso muda?
O impacto direto na produtividade
Se você pensa que bem-estar animal é só questão de marketing, vale olhar alguns números:
- Em estudos da Embrapa Gado de Corte, lotes de animais conduzidos com manejo racional ganharam em média 15 a 20% mais peso em comparação com lotes submetidos a manejo agressivo.
- O Instituto Certified Humane mostra que o estresse pré-abate pode levar a perdas de até 40% em rendimento de carcaça de qualidade A.
- Bovinos que passam por rotinas tranquilas de manejo têm menor incidência de abscessos hepáticos, o que representa menos descarte de vísceras e maiores bonificações nos frigoríficos.
Ou seja: além de ser o certo a se fazer, dá lucro.
Práticas que fazem diferença na fazenda
Aqui vão pontos práticos onde o bem-estar animal pode — e deve — ser aplicado com foco em resultado:
1. Manejo calmo: o fator humano importa
A forma como a equipe lida com o gado é talvez o ponto mais subestimado.
- Evite gritos, choques, pressões desnecessárias.
- Use bandeiras, linhas de fuga e pontos de equilíbrio.
- Capacite a equipe com treinamento básico de comportamento animal.
💡 Dica prática: Se o curral é barulhento e o gado entra em disparada, pare tudo. Refaça o manejo. O tempo que parece estar “ganhando” está, na verdade, sendo perdido em estresse e carne de má qualidade.
2. Instalações pensadas pro fluxo do animal
Currais mal projetados geram estresse, batidas, acidentes. Os melhores curralistas projetam com:
- Curvas leves (evitam que o animal veja o que tem à frente)
- Sem ângulos retos
- Iluminação uniforme (animais evitam sombras bruscas)
📌 Invista em bezerreiros, sombreamento em piquetes e corredores largos. São melhorias baratas que fazem diferença enorme.
3. Conforto térmico: sombra e acesso à água
Altas temperaturas reduzem o consumo de alimento e aumentam o estresse térmico. Isso reduz ganho de peso, fertilidade e bem-estar geral.
- Ideal: 1 bebedouro para cada 20 animais
- Pastagens com pelo menos 20% de área sombreada são recomendadas
- Árvores isoladas não resolvem — causam disputa entre os animais
🌡️ Temperaturas acima de 32 °C, especialmente com alta umidade, já colocam os bovinos em alerta fisiológico.
4. Transporte e pré-abate: o grande gargalo
A etapa de transporte é um dos momentos mais críticos:
- Caminhões devem ter ventilação adequada, lotação controlada e tempo de viagem limitado (ideal: até 8h).
- O jejum pré-abate deve ser de 12h a 14h, com água à vontade.
- O embarque deve ser tranquilo, sem agressões, preferencialmente ao entardecer ou madrugada (menos calor).
⚠️ Animais lesionados, com hematomas ou cansados demais são penalizados nos frigoríficos — e com razão.
Conclusão: bem-estar dá retorno, e rápido
Implementar ações de bem-estar animal não é custo — é investimento. Com pequenas mudanças, é possível reduzir perdas, aumentar produtividade e garantir uma carne de melhor qualidade. Além disso, cada vez mais mercados estão exigindo certificações e boas práticas nesse sentido.
O produtor que se antecipa, além de melhorar a vida dos animais, garante mais eficiência e reputação para sua marca.