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Pastagens: A Base da Produção Pecuária

Campo com pastagem

Introdução

Na pecuária, as pastagens são a principal fonte de alimento para o rebanho. A qualidade e o manejo adequado das pastagens têm um impacto direto na produtividade e rentabilidade da fazenda. Por isso, entender os diferentes tipos de pastagens e como escolher a ideal para sua propriedade é fundamental para o sucesso do seu negócio.

Tipos de Pastagens

Existem dois tipos principais de pastagens: nativas e cultivadas.

  • Pastagens Nativas: São aquelas que se desenvolvem naturalmente em uma determinada região. Elas são adaptadas às condições climáticas e de solo locais, o que as torna resistentes e de baixo custo de manutenção. No entanto, sua produtividade pode ser limitada em comparação com as pastagens cultivadas.
  • Exemplos:
    • Campos Nativos do Sul do Brasil: Composto por diversas espécies de gramíneas e leguminosas nativas, adaptadas ao clima subtropical e aos solos ácidos da região.
    • Cerrado: Predominância de gramíneas como Andropogon e capim-flecha, adaptadas ao clima tropical sazonal e aos solos ácidos e pobres em nutrientes.
    • Caatinga: Vegetação arbustiva e herbácea adaptada ao clima semiárido, com espécies como buffel e capim-de-pluma.
  • Pastagens Cultivadas: São aquelas que são semeadas e manejadas pelo pecuarista. Elas podem ser mais produtivas e nutritivas do que as pastagens nativas, mas exigem mais investimento em preparo do solo, adubação e manejo.
  • Exemplos:
    • Brachiaria spp.:
    • Brachiaria brizantha (Marandu, Xaraés, Piatã): Alta produtividade, boa adaptação a diferentes tipos de solo, resistente a cigarrinha-das-pastagens.
    • Brachiaria decumbens (Basilisk): Boa cobertura do solo, indicada para áreas de declive, menos tolerante a solos encharcados.
    • Brachiaria humidicola (Dictyoneura): Adaptada a solos úmidos e mal drenados, boa cobertura do solo.
    • Panicum maximum (Mombaça, Tanzânia, Massai): Alta produtividade e valor nutritivo, exigente em fertilidade do solo, suscetível a cigarrinha-das-pastagens.
    • Cenchrus ciliaris (Buffel): Adaptada a climas áridos e semiáridos, boa resistência à seca.
    • Pennisetum purpureum (Capim-Elefante): Alta produtividade, utilizado para corte e pastejo, exigente em fertilidade do solo.
    • Megathyrsus maximus (Colonião): Boa adaptação a solos férteis, alta produção de sementes.

Escolha da Pastagem Ideal

A escolha da pastagem ideal depende de diversos fatores, como:

Clima:

Cada tipo de pastagem tem uma adaptação climática específica. É importante escolher uma pastagem que seja adequada para a região onde sua fazenda está localizada.

  • Clima Tropical Úmido (Altas temperaturas e alta pluviosidade):
  • Recomendado: Gramíneas de crescimento rápido e alta produção de massa, como as do gênero Panicum (Mombaça, Tanzânia, Massai) e Pennisetum (Capim-Elefante). Algumas Brachiarias (como B. brizantha e seus cultivares mais exigentes em fertilidade) também se adaptam bem, mas é preciso atenção ao manejo para evitar a perda de qualidade.
  • Atenção: Monitorar a umidade excessiva do solo, que pode favorecer o desenvolvimento de doenças e plantas invasoras.
  • Clima Tropical Sazonal (Estação seca bem definida):
  • Recomendado: Espécies mais rústicas e tolerantes à seca, como Brachiaria brizantha (Marandu, Xaraés, Piatã), Andropogon gayanus e algumas variedades de Panicum maximum mais adaptadas à seca (como o Tobiatã).
  • Atenção: Planejar o manejo para garantir a disponibilidade de forragem durante a estação seca, como o diferimento de pastagens.
  • Clima Subtropical (Verões quentes e invernos frios, com geadas):
  • Recomendado: Espécies que tolerem as baixas temperaturas e geadas, como Brachiaria spp. (com atenção à tolerância específica de cada cultivar ao frio), Paspalum notatum (Batatais) e a introdução de pastagens de inverno (Azevém, Aveia) para complementar a produção na estação fria.
  • Atenção: Escolher cultivares de Brachiaria com boa tolerância ao frio e planejar o manejo das pastagens de inverno.
  • Clima Temperado (Invernos frios e verões amenos):
  • Recomendado: Gramíneas como Festuca, Lolium perenne (Azevém perene), Dactylis glomerata (Pé-de-galinha) e leguminosas como Trifolium repens (trevo branco) e Trifolium pratense (trevo vermelho), que são adaptadas a temperaturas mais amenas.
  • Atenção: O manejo deve considerar o ciclo de crescimento dessas espécies, que geralmente têm um pico de produção na primavera e no outono.
  • Clima Árido e Semiárido (Baixa pluviosidade):
  • Recomendado: Espécies altamente tolerantes à seca e a solos pobres, como Cenchrus ciliaris (Buffel), Andropogon, e algumas espécies nativas adaptadas a essas condições.
  • Atenção: O manejo deve ser extremamente cuidadoso para evitar a degradação do solo e da vegetação.

Solo:

O tipo de solo também influencia na escolha da pastagem. Algumas pastagens se adaptam melhor a solos arenosos, enquanto outras preferem solos argilosos.

  • Solos Arenosos (Baixa retenção de água e nutrientes):
  • Recomendado: Espécies que toleram a baixa fertilidade e a seca, como Brachiaria decumbens (Basilisk), Stylosanthes spp. (Estilosantes) e Cenchrus ciliaris (Buffel).
  • Atenção: A adubação e a correção do solo são cruciais para aumentar a produtividade. O manejo deve priorizar a cobertura do solo para reduzir a perda de água por evaporação.
  • Solos Argilosos (Boa retenção de água e nutrientes, mas podem ser mal drenados):
  • Recomendado: Muitas espécies se adaptam bem, como Brachiaria brizantha (Marandu, Xaraés, Piatã), Panicum maximum (Mombaça, Tanzânia) e Pennisetum purpureum. Brachiaria humidicola é uma boa opção para áreas com tendência a encharcamento.
  • Atenção: A drenagem adequada é fundamental para evitar problemas de sanidade da pastagem e do rebanho.
  • Solos Ácidos (Comum em muitas regiões tropicais e subtropicais):
  • Recomendado: Espécies tolerantes à acidez, como Brachiaria spp. (a maioria dos cultivares), Andropogon gayanus e algumas leguminosas como o Stylosanthes. A correção do solo (calagem) pode ser necessária para aumentar a produtividade de espécies mais exigentes.
  • Atenção: A análise do solo é essencial para determinar a necessidade de calagem e fosfatagem.
  • Solos Férteis (Ricos em nutrientes):
  • Recomendado: Espécies de alta produção e exigentes em fertilidade, como Panicum maximum (Mombaça, Tanzânia) e Pennisetum purpureum.
  • Atenção: O manejo deve ser intensivo para aproveitar ao máximo o potencial dessas pastagens.

Tipo de Rebanho:

O tipo de rebanho que você cria também é um fator importante. Algumas pastagens são mais adequadas para bovinos de corte, enquanto outras são mais indicadas para bovinos de leite.

  • Bovinos de Corte (Cria, Recria e Engorda):
  • Recomendado: Pastagens com boa produção de massa e rusticidade, como Brachiaria spp. (Marandu para sistemas mais extensivos, Xaraés e Piatã para sistemas mais intensivos), Panicum maximum (em sistemas mais intensivos com boa fertilidade) e Andropogon gayanus.
  • Consideração: A escolha pode variar de acordo com a fase de produção. Pastagens de melhor qualidade podem ser destinadas a categorias com maior exigência nutricional.
  • Bovinos de Leite (Baixa, Média e Alta Produção):
  • Recomendado: Pastagens com alto valor nutritivo e boa digestibilidade, como Panicum maximum (Mombaça, Tanzânia, Massai), Pennisetum purpureum (Capim-Elefante Anão) e consórcios com leguminosas.
  • Consideração: Sistemas de pastejo rotacionado intensivo são cruciais para maximizar o consumo de forragem de alta qualidade. A suplementação é geralmente necessária, especialmente para vacas de alta produção.
  • Ovinos e Caprinos:
  • Recomendado: Pastagens com boa palatabilidade e valor nutritivo, com folhas mais finas e macias. Muitas das gramíneas utilizadas para bovinos também podem ser adequadas, como algumas Brachiarias e Panicum, além de leguminosas como Leucaena e Cratylia.
  • Consideração: O manejo do pastejo deve ser ainda mais cuidadoso devido ao menor porte dos animais e à sua seletividade.
  • Sistemas Integrados (ILP/ILPF):
  • Recomendado: A escolha da pastagem deve considerar a compatibilidade com as outras culturas ou componentes do sistema. Brachiarias são frequentemente utilizadas devido à sua rusticidade e boa produção de palhada para o plantio direto. A escolha de leguminosas também é importante para a melhoria do solo.
  • Consideração: O manejo integrado é fundamental para o sucesso do sistema.

Objetivos de Produção:

Se você busca alta produtividade, pode ser interessante investir em pastagens cultivadas. Se o foco é baixo custo de manutenção, as pastagens nativas podem ser uma boa opção.

Manejo Inicial:

  • Pastagens Cultivadas:
  • Preparo do solo: É fundamental realizar uma boa aração e gradagem para eliminar plantas daninhas e preparar o leito de semeadura.
  • Adubação de plantio: A adubação de plantio é essencial para garantir o estabelecimento da pastagem. A quantidade e o tipo de adubo devem ser definidos com base na análise do solo.
  • Semeadura: A semeadura pode ser realizada a lanço ou em linha. A densidade de semeadura deve ser adequada para cada tipo de pastagem.
  • Controle de plantas daninhas: É importante controlar as plantas daninhas nos primeiros meses após a semeadura para evitar a competição com a pastagem.
  • Primeiro pastejo: O primeiro pastejo deve ser realizado quando a pastagem estiver bem estabelecida, geralmente entre 60 e 90 dias após a semeadura.
  • Pastagens Nativas:
  • Manejo da vegetação nativa: Em alguns casos, pode ser necessário realizar roçadas ou queimadas controladas para eliminar a vegetação indesejada e estimular o crescimento das gramíneas nativas.
  • Adubação: A adubação pode ser necessária para aumentar a produtividade das pastagens nativas, especialmente em solos pobres em nutrientes.
  • Controle do pastejo: É importante controlar o pastejo para evitar a degradação da pastagem nativa.

Lembre-se que o manejo de pastagens é um processo contínuo. Ao longo do tempo, você pode precisar ajustar suas práticas para otimizar a produção e garantir a sustentabilidade da sua fazenda.